terça-feira, 18 de maio de 2010

Odair José – O Filho de José e Maria (1977)

Disco maldito de um artista de sucesso popular e comercial, o “terror das empregadas” no anos setenta, sempre tachado de brega pela crítica por suas canções românticas e carnais. Com o conceitual projeto de uma ópera-rock, muito ousado e diferente do que fazia, Odair José esperava repaginar a sua carreira e garantir um lugar no circuito cultural, o que acabou não acontecendo, pois as suas músicas não tocaram nas rádios, seu público não compreendeu a mensagem, deixando o disco encalhado nas lojas. Segundo Paulo César de Araújo, autor do imprescindível livro Eu Não Sou Cachorro, Não (Record, 2005), o tema do álbum é “a história do nascimento, vida e morte de um jovem pederasta – o filho de José e Maria, que após longos anos de processo de solidão e rejeição social, assume a sua sexualidade e, aos 33 anos, encontra a plenitude e a felicidade. O texto faria uma livre adaptação da história de Cristo para os dias atuais.”. Para o compositor, o protagonista poderia ser o carnavalesco Clóvis Bornay. A história pareceu confusa e perigosa aos executivos da gravadora Phonogram, que se recusaram a realizar o disco, mas o cantor firme em sua decisão transferiu-se para a RCA que abraçou o projeto. Sob a influência dos livros do místico árabe Gibran Kalil Gibran e pelos discos de Joe Walsh, Humble Pie, Jeff Beck e Peter Frampton, pesquisava e trabalhava em uma sonoridade de puro rock’n’roll para as suas composições e escalou um timaço de músicos para acompanhá-lo nas gravações, entre eles, Robson Jorge (piano e Fender Rhodes), Hyldon (guitarra), José Roberto (órgão, clavinete, Arp strings), Alexandre (baixo Fender), Ivan “Mamão” (bateria), Jaime Alem (guitarra e violão), José Lanforge (voice box e harmônica), Don Charley nos arranjos de sopro e cordas, Durval Ferreira na direção artística, além do próprio Odair José, responsável pela guitarra, violão e arranjos de base. O álbum O Filho de José e Maria (RCA/Victor, 1977) chegou ao mercado em maio daquele ano e por seu tema ser polêmico, não foi tolerado pela Igreja que achou a história um absurdo, chegando ao ponto de alguns padres ameaçarem excomungar o cantor, principalmente por músicas como “O Casamento”, na qual defende a idéia de que José e Maria não eram casados quando seu filho foi concebido. Na primeira faixa “Nunca Mais” ele já avisa “Eu agora sou bem diferente / não se assustem e nem se preocupem / só que agora nada mais me encuca.../ e os meus traumas fui deixando prá trás / e o meu passado não me assusta mais”, mais a mudança de conceitos em “Não Me Venda Grilos (Por Direito)”, a balada de “Só Prá Mim, Prá Mais Ninguém”, a procura do desconhecido em “É Assim...”, os sonhos e as ilusões em “Fora da Realidade”, os abalos na infância provocado pela separação dos pais em “O Filho de José e Maria”, as verdades da vida em “O Sonho Terminou”, as carências e a solidão em “De Volta Às Verdadeiras Origens” e “Que Loucura” que diz “essa foi minha história / mas podia ser a de vocês...”. O mote do disco é realmente polêmico, musicalmente é muito bom e vale a audição de mais um LP perdido pelos sebos, esquecido pela mídia e abandonado pelos próprios fãs.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os Famks – Famks (1978)

Conjunto que animou diversos bailes no Rio de Janeiro durante a década de 70 com seu repertório pop, também foram os precursores na utilização da luz negra e dos painéis fosforescentes em shows. Em 1979, gravaram com sucesso uma vinheta de natal para uma rádio carioca e por sugestão do produtor musical Mariozinho Rocha, que queria dar “uma nova cara” à banda, trocaram o nome para Roupa Nova, o que certamente acarretou uma reviravolta em suas carreiras, tornando-os mais conhecidos e famosos, e emplacando sucessos nas rádios e trilhas sonoras de novelas. Voltando ao foco principal, o álbum Famks (EMI-Odeon, 1978) segundo e último registro do combo formado por Paulinho (vocal), Kiko (guitarra), Nando (baixo), Kléberson (teclados), Ricardo (teclados) e Fefê (bateria). Imersos na onda da disco music e no farto uso de teclados eletrônicos, produziram músicas dançantes como “Vem Dançar” e o hit “Sempre Te Tratei Numa Boa” de Ronaldo, Mani e Lincoln Olivetti, seguido por algumas canções pouco expressivas e irregulares, com breve destaque para “Preciso Te Encontrar” e “Todo Mundo Fala”. O creme fica para o final do disco, nas brilhantes faixas “Riso Amarelo” e “Labirinto”, que levam a assinatura da dupla de músicos e produtores Lincoln Olivetti e Robson Jorge.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Azimüth – Compacto (1975)

Verdadeira relíquia este compacto do conjunto Azimüth editado pelo selo Polydor no ano de 1975 e que se notabilizou por conter o hit “Melô da Cuíca”, presente na trilha sonora da novela global Pecado Capital. O ‘7 polegadas’ tem mesmo o carimbo de raridade, o grupo se chamava germanicamente de Azimüth e na sua formação além do trio José Roberto Bertrami, Alex Malheiros e Ivan Miguel Conti, o Mamão, ainda contava com o percussionista Ariovaldo Contesini. A utilização de instrumentos eletrônicos como os teclados Arp 2. 600, Arp Odissey, Arp Strings, Fender Rhodes 88, Hammond e M. 102 pilotados por Bertrami, o baixo Vox, Rickenbacker, Mutron Phasc e Bad Stone, tocados por Malheiros juntamente da parte percussiva de bateria, apitos e triguilhas, de Mamão e Ariovaldo, mais o caldeirão de influências com os ritmos e melodias do samba, jazz, rock e funk, são os ingredientes para estes músicos, desprendidos de rótulos, criarem uma sonoridade única e original. Faixas como a psicodélica “Zombie”, cheia de quebradas e viradas de bateria, a já citada “Melô da Cuíca” com direito a um frenético solo, “Que É Que Você Vai Fazer Nesse Carnaval” com pegada de escola de samba e letra de Hélio Matheus e “Tempos Atrás” tema de levada sutil e aprimorada, não me contrariam. As participações especiais ficaram por conta de Carlinhos da Mocidade (repique), Doutor (repique de mão), Testa (pandeiro), Neném (cuíca), Báo da Mocidade (surdo de 3ª), Hermes (ritmos), Tony e Gastão (vocal), a direção de produção foi de Guti e Carlos Lemos com os arranjos da própria banda.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Azambuja & Cia. (1975)

Genial trabalho de composição da dupla Arnaud Rodrigues e Chico Anysio para a trilha sonora do seriado televisivo Azambuja & Cia que foi ao ar na temporada de 1975, o personagem principal, um malandro capaz dos maiores trambiques para se dar bem, era magistralmente interpretado por Chico Anysio e no elenco figuravam Arnaud Rodrigues, também autor dos textos, como o imediato Bilico, Tião Macalé era o cego Stevie Wonder, Dorinha Doval (Nega Brechó), Dalto Ferreira (Trivelato), Tião Olímpio (Pernambuco) e Paulo Rodrigues (MacPherson), fora as participações especiais. O álbum curiosamente contém duas faixas de monólogos onde são contados alguns dos causos e peripécias de Azambuja, algumas hilariantes, mas a excelência está nos diamantes musicais deste álbum Azambuja & Cia. (CID, 1975), como “Nega Brechó”, uma reverência de quem vem de longe para ver sua musa com destaque para o belo solo de gaita, “Ao Bilico”, uma das canções mais legais da bolacha tem fino acompanhamento de piano Rhodes, “Tema de Azambuja”, de levada hipnótica que exalta as raízes africanas do “negro de babalaô” nascido no berço do samba, “Maristela”, tributo a amada que é a rainha do morro, porta-bandeira e solução da paz com a participação de Arnaud Rodrigues, “O Poste da Rua Jorge Lima”, nostálgico samba brejeiro que relembra as molecagens da turma no local em que se formou, se encontrou e que a vida separou, “Verde”, tema instrumental preenchido de teclados com efeitos e a “A Turma”, outra instrumental, porém mais melodiosa. Como não poderia deixar de ser diferente, os compositores se cercaram de ótimos músicos para as gravações, tocaram nas sessões Victor Assis Brasil, Conjunto Azimuth, Celso Woltzen, Mauricio Einhorn e Durval Ferreira, que também atuou como produtor e diretor artístico e os arranjos ficaram nas sábias mãos de José Roberto Bertrami e José Menezes. E também não poderia faltar o peculiar alerta de Azambuja para este registro na contracapa: “Este disco é um barato e fará sucesso não apenas no Brasil, como também na França e se facilitar em Paris. É iço aí, malandro”.